Diário da última semana antes das eleições: o que podemos esperar de domingo?

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Estamos diante de um cenário eleitoral extremamente complexo. Já vínhamos alertando nossos assessores, parceiros e clientes que a disputa entre Lula e Bolsonaro estava acirrada desde antes do primeiro turno, quando inclusive pesquisas apontavam para uma vitória em primeiro turno do petista. 

Nossa visão não se alterou em relação à divisão do eleitorado em 50-50, ou seja, continuamos sem um vencedor claro. Contudo, os eventos desta semana devem ser analisados com cautela:

03 a 21 de outubro: o otimismo inicial pós 1º turno

Após um primeiro turno com um diferença menor que o apontado pelas pesquisas, e com um congresso mais conservador, o mercado acionário reagiu com otimismo e teve um período de desempenho excelente até a última sexta (21). Só na semana de 17 a 21 de outubro, o Ibovespa registrou alta de 7,01%, puxada especialmente pelas estatais (PETR4 +12,87%, PETR3 +11,87%, BBSA3 +14,10%). Bolsonaro vinha melhorando seu desempenho nas pesquisas de aprovação do governo e de intenção de voto. Ele vinha se saindo bem em debates e estava em um momentum positivo. Como Bolsonaro é encarado como alguém com propostas mais liberais para a economia, a sua perspectiva de vitória favorece especialmente essas estatais.

Se nas ações, o sentimento era de possível virada de Bolsonaro, no mercado de juros, até o dia 21, esse otimismo não estava refletido nas taxas dos contratos futuros de DI e nem nos títulos públicos mais longos. Vemos essa diferença de comportamento como uma cautela dos investidores no que tange aos gastos públicos para ambos os cenários de presidente em 2023. Hoje, nos parece estar precificado um ceticismo quanto à credibilidade do arcabouço fiscal atual. 

Elaboração: Órama Investimentos
Dados: Quantum

23 e 25 de outubro: o caso Roberto Jefferson

No domingo (23), Roberto Jefferson, que já estava em prisão domiciliar, foi alvo da ação por determinação de Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). Segundo o ministro, ele descumpriu medidas impostas pelo Supremo dentro de uma ação penal em que é réu por incitação ao crime e ataque a instituições. Jefferson resistiu ao mandado de prisão atirando com fuzil e granadas a equipe da Polícia Federal. (Para entender melhor esse episódio, confira aqui o nosso resumo)

Após o caso, o mercado passou a avaliar o impacto do episódio para a reta final da campanha de Bolsonaro. Essa violência associada à política pode prejudicar mais a campanha do atual presidente, que vinha na expectativa de virada. 

O Ibovespa recuou na segunda (24) 3,27%. As ações das estatais já tinham subido bastante, registraram quedas ainda mais expressivas: Banco do Brasil (BBSA3): -10% e Petrobras ON (PETR3) -9,88% e PN (PETR4) -9,19%.

Na terça (25), o aprofundamento das perdas continuou e o Ibov teve mais um dia de queda de 1,20% e as estatais acompanharam mais ou menos no mesmo nível.

26 de outubro: o episódio das inserções e a reação do TSE

Após a denúncia do Ministro Fábio Faria no dia 24 e a entrega 24h depois de provas questionáveis ao TSE do suposto favorecimento de Lula com mais inserções em algumas rádios, o presidente do Tribunal, Alexandre de Moraes, rejeitou a ação apresentada pela campanha na quarta-feira (26).  (Para entender melhor esse, confira aqui o nosso resumo)

A decisão sem uma análise aprofundada de Moraes, em um momento tenso pré-eleição, fez os temores de eventuais questionamentos institucionais após o resultado de domingo se elevarem. A atuação do TSE vem sendo criticada há algum tempo, especialmente com a manutenção, no sábado dia 22, de 116 direitos de resposta de Lula em propagandas de Bolsonaro.

Ambos os lados estão apreensivos quanto à uma potencial escalada da violência: os eleitores do atual presidente acreditam que o Judiciário vem favorecendo seu oponente de forma desleal e pode alterar o desfecho das eleições. Os apoiadores de Lula temem alguma reação desmedida de Bolsonaro e seus seguidores no caso de uma derrota. Dada as circunstâncias atuais, a instauração do caos político-institucional é possível, porém não é o nosso cenário base.  

No mercado acionário, o Ibovespa teve seu terceiro dia no vermelho, recuando 1,62%. De segunda à quarta, a semana já acumulava perdas de 5,97%. No mês até o dia 26 o índice ainda subia 2,48%.

27 de outubro: a Carta de Lula 

Ainda na ressaca de todos esses eventos políticos na semana, na quinta-feira o Ibovespa chegou a subir 3% com notícia sobre “nova carta aos brasileiros” de Lula, mas fechou em alta menor, de 1,66%.

Elaboração: Órama Investimentos
Dados: Broadcast

Se no rumor da carta, a reação foi tão expressiva, após a divulgação a impressão foi de que “veio mais do mesmo”. Na nossa análise, esse comportamento indica que os investidores estão buscando indicações minimamente razoáveis de compromisso fiscal para entrar comprando e que mesmo com o Lula, o otimismo também pode prevalecer.

O documento  intitulado “Carta para o Brasil do Amanhã” apresenta 13 pontos prioritários para uma nova gestão Lula. 

No texto, Lula aborda que “os bancos públicos, especialmente o BNDES, e empresas indutoras do crescimento e inovação tecnológica, como a Petrobras, terão papel fundamental neste novo ciclo”. Vimos no governo Bolsonaro, seguidas tentativas de intervenção na Petrobras que foram blindadas pelas mudanças de governança e política de paridade de preços implementada pelo Michel Temer.

O Auxílio Brasil seria novamente recauchutado como “um Novo Bolsa Família, que garantirá R$ 600,00 como valor permanente mais R$ 150,00 para cada criança de até 6 anos de idade.”  

Está sendo proposto a criação de mais cinco ministérios: Povos Originários, Segurança Pública, Cultura, Mulher e Igualdade Racial. 

Os dois setores que são geralmente incluídos no “pacote Lula” – educação e construção civil – também foram contemplados. A ideia é investir em Mais Universidades, com o fortalecimento do ENEM, FIES, do PROUNI, da Bolsa Formação, e ampliação da Lei de Cotas, incluindo a pós-graduação. E também  Lula se compromete a retomar obras paradas e estruturar um Novo PAC, para reativar a construção civil e a engenharia pesada – orientando o investimento para setores que atendam a demandas sociais como habitação, transporte e mobilidade urbana, energia, água e saneamento.

O ponto chave para o mercado financeiro – a responsabilidade fiscal – só foi mencionada na página 9, a última do texto e forma genérica e retrospectiva

Já governamos este país. Com responsabilidade fiscal, reduzimos a dívida pública, controlamos a inflação e acumulamos um expressivo volume de reservas cambiais que até hoje são fundamentais para a estabilidade da economia. Essas condições foram essenciais para o Brasil crescer o dobro da média internacional em nosso governo e enfrentar a maior crise financeira mundial da história recente.

A política fiscal responsável deve seguir regras claras e realistas, com compromissos plurianuais, compatíveis com o enfrentamento da emergência social que vivemos e com a necessidade de reativar o investimento público e privado para arrancar o país da estagnação. O sistema tributário não deve colocar o investimento, a produção e a exportação industrial em situação desfavorável, nem deve penalizar trabalhadores, consumidores e camadas de mais baixa renda. É possível combinar responsabilidade fiscal, responsabilidade social e desenvolvimento sustentável – e é isso que vamos fazer, seguindo as tendências das principais economias do mundo.”

28 de outubro – último dia de propaganda e debate na Globo 

Pela legislação eleitoral, hoje (28) é o último dia de propaganda eleitoral em rádio e televisão e também está marcado o debate presidencial na Globo às 21:30. Esse encontro vai ser decisivo, especialmente para o público que ainda está indeciso. Segundo o DataFolha, existem apenas 2% de indecisos, mas em uma eleição que está tecnicamente empatada, cada voto importa e esses eleitores podem definir o pleito.

Existe uma certa cautela no ar e o mercado está reagindo a cada nova informação disponível.

29 de outubro: estão marcadas manifestações pró-Bolsonaro 

A campanha de Jair Bolsonaro sob o mote “eleições limpas” está convocando para este sábado manifestações em todo o país. Um ponto importante de conseguir mobilizar a sua base é evitar o aumento da abstenção no segundo turno. No primeiro, 20,95% dos eleitores não compareceram, ou seja, 32.770.982 pessoas deixaram de ir votar. A diferença entre Lula e Bolsonaro foi de apenas 6.187.159 votos.  

30 de outubro: o grande dia das Eleições 2022 

Como mencionamos, vemos essa eleição extremamente disputada, polarizada e a população com os nervos à flor da pele. Por isso, não é só o resultado em si que importa, e sim qual vai ser a reação de cada grupo imediatamente após a contabilização das urnas. 

O PÓS-ELEIÇÃO

Como a combinação dos resultados com as possíveis reações de Lula, Bolsonaro e seus respectivos seguidores culmina em uma infinidade de cenários, acreditamos que é mais eficiente pensar em alguns gatilhos que acreditamos que o mercado financeiro potencialmente interpretaria como positivos, negativos ou neutros

Os cenários não são equiprováveis, mas faz parte do nosso trabalho elencar riscos extremamente assimétricos. 

Nosso cenário base é que o resultado das eleições ainda está indefinido e a margem será muito estreita. Esperamos um questionamento da vitória tanto por Lula quanto por Bolsonaro, caso adversário vença, mas “dentro das quatro linhas da Constituição”. Sem instabilidades institucionais, o mercado vai olhar novamente para frente, para propostas e ministros, com volatilidade, mas sem caos. 

O pior cenário é pouquíssimo provável, mas que merece menção pelo possível impacto, seria o questionamento do resultado levar à ruptura de fato da estabilidade institucional. Se tivermos algum desequilíbrio entre os poderes ou em relação ao papel das forças armadas, os impactos para os investimentos seriam bastante negativos e imprevisíveis. Caso essa hipótese remota se confirme, é válido procurar seu assessor e a mesa de operações estruturadas para pensarmos estratégias específicas caso a caso a depender do portfólio.

Mantendo nosso cenário base e as instituições no lugar, caso no domingo as urnas dêem a vitória a Bolsonaro, vemos que o mercado, no geral, reagiria de forma positiva, especialmente as estatais tendem a se valorizar. 

De imediato, caso Lula vença, os setores de varejo – principalmente de baixa renda – construção e também educação ganham mais no relativo no curto prazo. Ressaltamos que as recomendações de ações para esses dois cenários já estão neste relatório

Na eventual vitória de Lula, o próximo passo do mercado vai ser acompanhar de perto a indicação da equipe econômica. Esperamos três reações distintas a depender do nome apontado para comandar a pasta:

  1. Os investidores encarariam como muito positivo se Lula, de imediato, anunciasse uma equipe econômica pró-mercado, mantendo ou não os ministérios Fazenda e Planejamento unidos. Henrique Meirelles, Pérsio Arida ou Marcos Lisboa são alguns nomes cotados para o cargo, especula-se até mesmo Alckmin para essa função. Esse pode ser um gatilho de bolsa para cima e juros para baixo, com a expectativa de uma política fiscal responsável. Esse cenário seria aquele com melhor reação do mercado, mas hoje nos parece com uma probabilidade menor que a hipótese 3.

  1. Na outra ponta, os ativos de risco, em especial as estatais teriam um desempenho negativo caso Lula escolha para ocupar o ministério da Economia ou Fazenda alguém com viés desenvolvimentista. Acreditamos que nomes como Fernando Haddad, Aloizio Mercadante, Dilma Rousseff ou até mesmo Guido Mantega seriam muito mal recebidos. Contudo, esse caso é o que consideramos menos provável

  1. A terceira hipótese é de Lula indicar um político, cuja principal característica seja um bom trâmite no Congresso. Nomes cotados nessa linha são Alexandre Padilha (ex-ministro de Lula e Dilma e responsável pelo PAC, Minha Casa Minha Vida, Bolsa-Família e Mais Médicos, entre outros programas),  Rui Costa (ex-governador da BA, que em 2020 aprovou a reforma da previdência na Assembleia Legislativa da Bahia) e Wellington Dias (ex-governador por quatro mandatos vencendo todos em primeiro e eleito senador do PI). No caso desses, o mercado fica neutro no curto prazo e vai concentrar o olhar para a Secretaria de Política Econômica (SPE), órgão formulador de políticas econômicas. A composição de um político bem relacionado com uma secretaria fiscalmente responsável, pode ser positiva para a bolsa e juros no médio-longo prazo. Esse é o cenário que vemos como mais provável

O momento é de fato complexo no curto prazo e acreditamos que teremos ainda mais volatilidades. Para os clientes que estejam com tensos com o resultado de domingo e desejam proteger alguma posição, é válido entrar em contato com a mesa da Órama de operaçõees estruturadas pelo telefone (21) 3797-8000

Lorena Laudares |  Mestre em Ciência Política 

(21) 98115-6831 –  lorena.laudares@orama.com.br

Este material foi elaborado pela Órama DTVM S.A. As informações contidas neste material têm caráter meramente informativo e não constitui e nem deve ser interpretado como solicitação de compra ou venda, oferta ou recomendação de qualquer ativo financeiro, investimento, sugestão de alocação ou adoção de estratégias por parte dos destinatários. As informações, opiniões, estimativas e projeções contidas se referem à data de sua elaboração e/ou divulgação, bem como estão sujeitas a mudanças, não havendo obrigatoriedade de qualquer comunicação no sentido de atualização ou revisão. As projeções constantes neste documento poderão ter resultados significativamente diferentes do esperado. Recomenda-se a análise das características, prazos e riscos dos investimentos antes da decisão de compra ou venda. Investimentos nos mercados financeiros e de capitais estão sujeitos a riscos de perda superior ao valor total do capital investido, não podendo a Órama e/ou o(s) envolvido(s) na elaboração deste material serem responsabilizados por qualquer perda direta ou indireta decorrente da utilização do seu conteúdo, cabendo a decisão de investimento exclusivamente ao investidor. Este material é destinado à circulação exclusiva para a rede de relacionamento da Órama, incluindo agentes autônomos e clientes, podendo também ser divulgado no site e/ou em outros meios de comunicação da Órama. Fica proibida sua reprodução ou redistribuição para qualquer pessoa, no todo ou em parte, qualquer que seja o propósito, sem o prévio e expresso consentimento da Órama. Para informações sobre produtos e serviços acesse o site www.orama.com.br. Telefone Ouvidoria 0800 797 8000. As informações deste material estão atualizadas até 07/10/2022.
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