Ata do Copom – Agosto 2023

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ATA DO COPOM – 256ª REUNIÃO

Como primeira ata após o início do corte de juros, era esperado que o documento trouxesse novas discussões e algumas respostas que ficaram pendentes no comunicado. A decisão do dia 2 de agosto cortou a Selic em 0,50 p.p., para 13,25%, com um placar apertado de 5 a 4. 

Em nossa visão, apesar de trazer uma ata transparente, levantando, principalmente, os pontos de discordância entre os grupos, as justificativas ainda deixam algumas dúvidas e contradições, o que pode, eventualmente, prejudicar o processo de desinflação, dadas as interrogações que restaram.

Sobre o cenário internacional, o documento reforçou a incerteza do ambiente externo, com as principais economias ainda observando núcleos de inflação elevados, desaceleração gradual da atividade e resiliência do mercado de trabalho. Reforçaram, ainda, que o cenário demanda cautela na condução da política monetária nos países emergentes. Contudo, foi colocado que a sincronização da política monetária contracionista pode ter um impacto maior do que esperado sobre o processo de desinflação global. 

Além disso, e este aspecto nos causou especial atenção, foi trazida nova discussão sobre o hiato do produto, ressaltando que a velocidade do seu fechamento é tão importante quanto seu pressuposto nível inicial. Nesse tópico, foi levantada a hipótese do hiato estar mais apertado do que se supõe, especialmente no mercado de trabalho. 

Em relação à dinâmica da inflação, diferentemente das últimas comunicações, o Comitê acrescentou que o primeiro estágio veio mais profundo e benigno que esperado, principalmente nos alimentos e bens industriais, levando à um segundo estágio com uma inércia já mais baixa. Esse movimento foi acentuado pela recente dinâmica da taxa de câmbio e das commodities, que contribuiu para arrefecer as pressões internacionais sobre o Brasil. Por outro lado, isso aumenta a possibilidade de reversões abruptas, exigindo-se, mais uma vez, cautela na condução da política monetária. Como outros riscos monitorados, foi citado o El-Niño e a evolução do preço do petróleo. 

Foi unanimidade que deveria haver alguma redução nos juros e que ambas magnitudes seriam compatíveis com a convergência da meta no cenário de referência. Em relação à última reunião, foi visto uma redução das expectativas da inflação e da inflação implícita, que diminuem o custo da desinflação. A convergência parcial das expectativas foi atribuída à manutenção da meta para 2026 assim como à alteração para o regime de metas-contínuas, definidas na reunião do CMN.  

Embora tenha havido a ancoragem parcial, foram levantadas algumas possibilidades para a desancoragem ainda persistir. Foi citado o risco fiscal – principalmente em relação ao resultado primário -, o cenário global de inflação e uma possível percepção dos agentes que o BC poderia se tornar leniente no combate da inflação ao longo do tempo, reforçando que há o entendimento que, independentemente da composição da diretoria, deve-se garantir a credibilidade da instituição.

O principal ponto de discordância apresentado entre os grupos foi a inflação de serviços, que apresentou uma melhora na margem recentemente. Nesse aspecto, os membros que votaram por 0,25 p.p. argumentam que, apesar da desaceleração, “os fundamentos subjacentes para a dinâmica da inflação de serviços não permitem extrapolar com convicção o comportamento benigno recente”, o que vai de encontro com a nossa visão de que ainda não há uma trajetória de desinflação consolidada para o grupo. 

Em relação às próximas reuniões, o Comitê espera novos cortes de 50 bps, como já havia sido citado no comunicado. A possibilidade de uma redução mais forte, de 0,75 p.p., é vista como muito improvável, dependendo de uma alteração significativa da dinâmica da inflação, como uma reancoragem bem mais sólida dos fundamentos das expectativas, abertura contundente do hiato ou uma inflação de serviços muito mais benigna do que antecipado, hipóteses que parecem improváveis no curto prazo. 

Nossa expectativa é que os cortes se mantenham na mesma magnitude, levando a Selic no fim de 2023 para 11,75%

Ata do Copom – 256ª reunião


Alexandre Espirito Santo – Economista-Chefe
Eduarda Schmidt – Analista de Macroeconomia

Este material foi elaborado pela Órama DTVM S.A.. Este material não é uma recomendação e não pode ser considerado como tal. Recomendamos o preenchimento do seu perfil de investidor antes da realização de investimentos, bem como que entre em contato com seu assessor para orientação com base em suas características e objetivos pessoais. Investimentos nos mercados financeiros e de capitais estão sujeitos a riscos de perda superior ao valor total do capital investido. Este material tem propósito meramente informativo. A Órama não se responsabiliza por decisões de investimentos que venham a ser tomadas com base nas informações aqui divulgadas. As informações deste material estão atualizadas até 08/08/2023.
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