Juros em queda: o momento para comprar bolsa.

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Direto ao ponto:

  • A relação entre juros e bolsa é negativa – quedas nos juros trazem altas na bolsa.
  • Esta relação acontece através de vários mecanismos de transmissão.
  • O custo de oportunidade do investidor, os resultados financeiros das empresas e a taxa mais alta para desconto dos lucros das empresas são os três mais importantes.
  • Ainda vemos aqui na Órama amplo espaço para altas no mercado acionário.

Aqui na Órama temos acompanhado de perto a discussão acerca da taxa de juros. O atual patamar é alto, e existe um consenso do mercado acerca das perspectivas de queda nos juros num futuro próximo.

O juro básico (a Selic) afeta a performance de todos os investimentos do mercado financeiro, servindo como um balizador. Hoje nós vamos falar sobre as perspectivas para o mercado acionário neste contexto.

Vamos argumentar ainda acerca do momento em que nos encontramos no ciclo econômico – quais produtos tem a melhor performance e quais setores da economia são os mais lucrativos.


OS JUROS E A BOLSA

É de amplo conhecimento que ações têm bom desempenho durante um ciclo de queda dos juros. Observamos no gráfico ao lado uma relação claramente negativa entre o nível de juros da economia e o indicador preço/lucro médio das ações do IBOV (o índice mais difundido de ações no Brasil).

A correlação entre as duas séries é negativa, o que confirma matematicamente a existência desta relação.

Neste cálculo, o indicador preço/lucro pode ser interpretado como o preço das empresas na bolsa. Especificamente, o preço por unidade de lucro que está sendo adquirida na compra da ação.

A conta não considera ainda a perspectiva de mudanças nos lucros futuros das empresas. Mas já é possível, somente pela correlação negativa, estabelecer a relação inversa entre taxa de juros e preço da bolsa.


Componente 1: O custo de oportunidade

Esta dinâmica tem alguns mecanismos de funcionamento, das quais o mais famoso é com certeza o custo de oportunidade.

O custo de oportunidade é um dos conceitos econômicos mais práticos e aceitos. Trata-se da “perda do benefício de todas as outras alternativas, uma vez que uma delas é escolhida”.

No nosso contexto, todo investimento acaba tendo como base de comparação a Selic. Qualquer investimento arriscado deve ter um retorno suficientemente acima da Selic que compense os riscos que está sendo incorridos – sejam eles de mercado, de liquidez, de crédito, operacionais, entre outros.

Em 2021 chegamos a ter uma Selic determinada no patamar de 2%. Neste nível, os investidores se mostraram, evidentemente, insatisfeitos com o baixo retorno dos títulos públicos e foram buscar no mercado alternativas com mais retorno; e consequentemente mais riscos. Uma grande quantidade de investimentos conseguia atrair recursos por este motivo.

Já no nosso ambiente atual, com Selic a 13,75%, os investidores estão mais satisfeitos com o patamar de retorno do investimento mais seguro, e portanto não vêem interesse em alternativas. Por isso, a demanda pelos investimentos arriscados cai, e frente à queda na procura temos também uma queda no preço.


Componente 2: O endividamento das empresas

Um segundo mecanismo são as despesas financeiras. As empresas listadas costumam ser endividadas, e o endividamento costuma ter a sua taxa de juros atrelada à Selic.

Juros altos trazem um nível elevado de despesas financeiras para um mesmo tamanho de dívida, puxando os lucros para baixo. Com lucros em baixa, o retorno sobre o investimento na ação cai, a procura cai e portanto o preço também cai.

Um ambiente de juro baixo, em contrapartida, reduz as despesas financeiras das empresas, aumentando os lucros, e portanto o retorno dos ativos.

No gráfico ao lado, vemos que a correlação é positiva, evidenciando a importância desta componente nos preços de mercado.

Dessa forma, faz sentido que observemos maior volatilidade nos preços das ações de empresas mais endividadas. Estas empresas devem se beneficiar de forma excepcional de uma queda nos juros, devido a uma queda mais abrupta na sua despesa financeira. Sobem mais que as outras quando o juro cai, e caem mais que as outras quando o juro sobe.


Componente 3: O peso dos lucros futuros

Há também um terceiro mecanismo, menos popular porém extremamente importante. Trata-se da mudança na taxa de desconto dos lucros futuros das empresas. O preço de uma ação reflete, não só o lucro que a empresa aufere hoje, mas também toda a perspectiva de resultados que a empresa tem nos anos futuros. Uma companhia que tenha uma excelente perspectiva de lucratividade futura pode negociar a um preço alto hoje, mesmo com lucro corrente baixo.

Ocorre que o lucro no futuro não pode valer a mesma coisa do que o lucro hoje. O lucro futuro tem que sofrer um desconto, e a taxa de desconto utilizada está baseada na taxa básica da economia – no nosso caso a Selic. Uma Selic alta significa um desconto severo nas perspectivas de lucro futuro, e portanto uma queda substancial no preço da ação.


Devemos destacar aqui a alta volatilidade dos IPOs e ações de empresas de alto crescimento. Nessas empresas, uma grande parte do preço da ação é devido ao lucro futuro, e uma parte menor ao lucro corrente.

Com um desconto mais severo no valor do lucro futuro, também teremos um desconto mais severo no preço da ação. Exatamente o que observamos neste último ciclo de alta de juros – IPOs e ações de empresas de alto crescimento com quedas muito maiores que as observadas no resto da bolsa.

No gráfico ao lado vemos que a correlação entre crescimento e volatilidade no preço da ação é positiva, evidenciando o peso deste mecanismo.


Em linhas gerais, empresas com negócios mais frágeis, menos previsíveis ao longo do tempo, são mais voláteis. Suas ações variam mais, refletindo as incertezas acerca do futuro financeiro do investimento para o acionista.

No gráfico ao lado podemos ver a correlação negativa entre valor de mercado e volatilidade. Empresas com valor de mercado mais alto tendem a ser maiores em termos de negócio. Empresas maiores geralmente tem vantagens competitivas, muitas vezes decorrentes da própria escala do negócio.

Como vemos no gráfico, quanto maior a empresa, menos volátil a ação, o que decorre da menor percepção de risco do negócio por parte do mercado.


Em suma, observaremos o seguinte:

Ações mais voláteis

  • Sobem mais que a média quando o juro cai
  • Caem mais que a média quando o juro sobe
  • Tendem a ser emitidas por empresas:
    • Mais endividadas
    • Com crescimento acelerado
    • Com lucratividade corrente baixa
    • De menor porte
    • Com pior posição estratégica
    • Com margem menor
    • Com estrutura societária mais frágil

Ações mais estáveis

  • Sobem menos que a média quando o juro cai
  • Caem menos que a média quando o juro sobe
  • Tendem a ser emitidas por empresas:
    • Menos endividadas
    • Com crescimento estável
    • Com lucratividade corrente alta
    • De maior porte
    • Com melhor posição estratégica
    • Com margem maior
    • Com estrutura societária mais robusta

Conclusão

O momento que observamos no mercado hoje é propício para compra de ações na bolsa. Temos um juro de curtíssimo prazo ainda alto, resultado da bem executada política monetária do Banco Central, tendo em vista a redução dos índices de inflação. Já observamos quedas substanciais na inflação nos últimos meses, e com isso o mercado já precifica cortes relevantes nos juros já nas próximas reuniões do Copom, através de instrumentos de juro futuro.

Essa perspectiva vem puxando os preços dos ativos. Vimos ao longo destes meses de maio e junho uma alta substancial no preço das ações na Bolsa. A nossa perspectiva é de continuidade deste movimento. Muitos dos nossos clientes aqui na Órama se beneficiaram de altas em papéis que subiram 40%, 50% e, em alguns casos mais de 60% neste período, através das nossas recomendações.

Ainda vemos bastante oportunidade nas empresas de alta qualidade, aquelas localizadas à esquerda no quadro. Acompanhamos especialmente os setores de saúde, varejo e indústria, onde tivemos diversas recomendações que já resultaram em alta expressiva, e que assim devem continuar pelos próximos trimestres. Acompanhe as nossas carteiras recomendadas para manter uma estratégia sempre atualizada.


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