Atualização SVB, Signature e Credit Suisse

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CONTEXTO HISTÓRICO

Após a crise de 2008, vários alertas soaram em relação ao sistema bancário global. Os fatores que concorreram para aquela situação estavam associados aos exageros que os bancos vinham praticando para aumentarem suas rentabilidades, sobretudo com uso do mercado imobiliário, com alavancagens extremas e empréstimos inconsequentes para o segmento subprime. Lembremo-nos que o FED havia colocado a taxa de juro muito baixa, depois dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. 

Naquele momento, juntamente ao Quantitative Easing do BC americano, os legisladores sentiram-se obrigados a reagir, aprimorando a legislação bancária em vigor, criando a Lei Dodd-Frank, além da aprovação da Regra Volcker. Ambas tinham o intuito de evitar que aqueles exageros, que comentei acima, fossem replicáveis no futuro, dando maior credibilidade ao sistema como um todo. 

Com a situação evoluindo para melhor desde então, em 2018 o Congresso americano, pressionado pelos bancos, abrandou aquela regulação “pesada” à época instituída, reduzindo exigências para bancos médios, de ativos inferiores a U$ 250 bilhões. Essa “acomodação” se refletia em menores exigências de capitais, testes de estresse, dentre outras. Desde ali, os bancos médios, especialmente aqueles associados ao segmento da economia digital/cripto ativos, passam a crescer, inclusive em quantidade. 

Com a pandemia de Covid-19, os bancos centrais mundo afora “despejam” uma quantidade jamais vista de moeda nas economias, para minorar os efeitos recessivos que a doença estava impondo com os lockdowns. O balanço do FED infla absurdamente, e tal movimento leva as taxas de juros para patamares muito próximos de zero, alimentando uma bolha de ativos de toda ordem, desde criptomoedas, passando por ações, commodities e até treasuries. Esse movimento fica conhecido como rali do “everything”, que catapultou índices de bolsa e criptos para a estratosfera. 

Evidentemente que toda bolha de ativos é perigosa. Chega um momento em que, por alguma razão, os mercados “caem na real”. O start para esse despertar se dá quando a inflação surge com força nos EUA, e o FED inicia um processo de aperto monetário, “explodindo” a taxa de juro de zero (o tal forward guidance) para perto de 5% a.a. Esse movimento tem efeitos negativos sem precedentes sobre os preços dos títulos públicos, provocando a maior queda de valor em toda a história. 

O problema é que alguns desses bancos, que agora sofrem, destinaram as enormes somas de recursos a eles direcionadas em projetos de rentabilidades duvidosas, com fluxos de caixas (muitos) negativos. Outrossim, alocaram expressivos montantes em títulos do Tesouro americano, quando as taxas de juros estavam próximas de zero. Com a debacle nos preços mencionada acima, seus balanços são fortemente afetados, e a falência é a última alternativa.

SVB, SIGNATURE E CREDIT SUISSE

Com as derrocadas do SVB e Signature, o FED prontamente usou uma linha de crédito da ordem de U$ 2 trilhões para suportar a liquidez do sistema, mesmo o imbróglio afetando “apenas” bancos regionais e médios, diferentemente do que ocorrera em 2008. Importante dizer que quase duas centenas de bancos vêm recebendo algum tipo de ajuda. Porém, duas perguntas incomodam: 

  • Como o FED vai compatibilizar o combate a uma inflação teimosamente alta com redução de juros, para não provocar nova crise sistêmica?
  • Estamos na antessala de uma nova crise, como a de 2008?

Infelizmente, para piorar o quadro, bancos maiores, fora da América, começaram a mostrar fragilidades, caso do Credit Suisse, que vem apresentando resultados pífios há alguns trimestres, e seus controladores não quiseram fazer novos aportes.

Neste domingo, depois de uma semana de muitos boatos e desvalorizações históricas nas suas ações, o governo suíço sinalizou que poderia nacionalizar o tradicional banco. Todavia, segundo informações confirmadas, a opção que prevaleceu foi a compra pelo seu rival UBS, num negócio envolvendo mais de U$ 3,2 bilhões.

MERCADO BRASILEIRO

Em relação ao mercado brasileiro, vimos recebendo (compreensível!) questionamentos de clientes sobre possíveis efeitos por aqui, especialmente sobre bancos digitais. Não percebo, com franqueza, uma relação umbilical entre os eventos de lá com possíveis dificuldades em nosso mercado. O sistema bancário brasileiro nos parece muito sólido, extremamente regulado, sendo nossos parâmetros de Basiléia muito mais rígidos do que as exigências internacionais. 

Em outras palavras, para que algo potencialmente grave ocorra no mercado brasileiro seria necessário um contágio de largas proporções, o que, aparentemente, vem sendo evitado com a ação das autoridades monetárias. 

Permanecemos acompanhando o cenário.

Alexandre Espírito Santo – Economista-Chefe

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