A quebra do Silicon Valley Bank (SVB)

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A QUEDA DO SVB

Na última sexta-feira, 10 de março, a economia americana foi chacoalhada com a notícia da quebra do Silicon Valley Bank (SVB), um importante banco regional, do estado da Califórnia. Apesar de ser uma instituição de médio porte, ela possuía mais de U$ 200 bilhões em ativos.

O intuito deste texto é fazer uma avaliação preliminar para nossos clientes, com as informações até o momento disponíveis. 

Na quinta-feira, 9 de março, quando o banco anunciou que era preciso levantar capital para fazer frente à situação adversa que enfrentava, os clientes da instituição correram para sacar mais de U$ 40 bilhões de depósitos; uma verdadeira corrida bancária.

O fato é que desde 2008 não se via revés de tão expressiva magnitude no sistema bancário americano. O FDIC (espécie de FGC dos EUA), garantiu que honrará depósitos de até U$ 250 mil já na segunda-feira, dia 13. O problema nessa história é que cerca de 90% dos valores depositados na instituição estão acima desse montante. Para piorar o quadro, como esse banco era muito importante no contexto do setor de tecnologia, muitas empresas do segmento, bem como fundos de private equity e fintechs, detinham depósitos significativos na instituição. Sem contar os donos dessas instituições…

COMO O SVB CHEGOU A ESSA SITUAÇÃO?

Com a pandemia, o governo e o FED injetaram trilhões de dólares na economia, para mitigar os efeitos da doença. Como é notório, o mundo todo ficou muito dependente de serviços remotos/digitais, o que parecia beneficiar fortemente esses setores. 

O problema foi que, à medida em que havia uma avalanche de recursos sendo carreados para esse segmento, muitas empresas fizeram investimentos que não apresentavam TIR adequadas. Com o passar do tempo, e os resultados desses investimentos mostrando-se frustrantes, parte dos acionistas começaram a questionar a gestão e a sustentabilidade dos negócios. Para complicar, alguns bancos, como parece ter sido o caso do SVB, alocaram tais recursos em títulos de elevada maturidade, que normalmente possuem baixa liquidez. 

O problema começa a se tornar real quando a inflação dispara, fazendo com que o FED passe a praticar uma política monetária bastante austera, elevando a taxa de juro de zero para quase 5%. A consequência dessa “pancada” nos juros, num período relativamente curto, foi, a nosso ver, um dos principais fatores que originaram a debacle da instituição e a crise de liquidez experimentada, que causou a intervenção.

RISCOS POTENCIAIS

Ainda é cedo para especularmos o que ocorrerá com os mercados no curto prazo e se há uma chance de observarmos uma crise sistêmica, que seria péssimo para a economia americana, com respingos sobre a economia global.

Nesse momento, nossa primeira impressão é que não há similaridade entre o que está ocorrendo com o SVB e o banco Lehman Brothers, considerado um dos drivers para a crise financeira de 2008. Todavia, não podemos deixar de citar quatro situações que precisam ser monitoradas de perto:

  • A despeito de ser uma instituição regional, não se pode desconsiderar que cerca de 30% dos depósitos bancários nos EUA sejam realizados em bancos menores. Ou seja, há perigo de “transbordamento” para bancos maiores, que deveria ser evitado pelas autoridades;
  • Risco de perdas significativas para empresas que detém depósitos no SVB acima do limite do FDIC, com impactos sobre a economia local (pagamento de salários, fornecedores etc);
  • O custo de captação dos bancos pequenos/médios irá certamente aumentar de forma significativa, reduzindo suas rentabilidades, com reais consequências sobre seus acionistas e o mercado acionário;
  • Risco estrutural do setor de tecnologia ser fortemente afetado, com efeitos sobre a atividade econômica.

O ponto número um acima é muito preocupante, pois implicaria numa corrida bancária que só teria paralelos com as crises de 1929 e 2008. Sendo assim, seria importante que os órgãos reguladores, especialmente o FED, possam dar liquidez e financiamento adicional, incluindo acesso ao redesconto. Aliás, o BC americano, nesse domingo, sinalizou que estará vigilante para não deixar o sistema colapsar, criou um “Programa de Financiamento”, no valor de U$ 25 bilhões, além de marcar uma reunião de emergência para segunda-feira, pela manhã.

Estaremos atentos e manteremos os clientes informados à medida em que os fatos se desenrolem.

Alexandre Espírito Santo – Economista-Chefe

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